Um pouco do que é viver este problema: bipolaridade, ou distúrbio de humor bipolar, ou depressão bipolar, ou TAB - Transtorno Afetivo Bipolar, já foi chamado de psicose maníaco-depressiva.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

facilidade: intelectual, artística e/ou criativa

Em contraponto às dificuldades que citei no último post, parece que algumas coisas que podem ser consideradas positivas também são comuns a quem tem TAB.
Parece que também é comum uma grande facilidade na área intelectual e/ou de criatividade, o que aparece na parte artística, por exemplo (essa questão, da arte, não é o meu caso - risos -, pelo menos até agora), para quem enfrenta bipolaridade. Há quem cite Mozart, e outros artistas, e também intelectuais conhecidos do passado, como pessoas que pela forma como agiam (pelas informações que se tem) provavelmente eram bipolares (tanto que suas vidas pessoais era bastante instáveis: e aqui, para quem não entende, não se está falando de questões morais, mas de tristeza e inanição de um lado, e arroubos de muita energia para fazer muitas coisas em outros momentos - o que gera, muitas vezes, problemas nas relações pessoais).
E como dizia minha amiga, se mesmo com facilidade é difícil para nós algo como cursar uma faculdade, imagine se não fosse assim (se não tivéssemos facilidade alguma).
Outra coisa comum em relação as pessoas que enfrentam esse problema parece ser que elas tem uma grande sensibilidade para os grandes problemas que a sociedade que (n)os cerca sofre - e sofrem(os) com isso.
Embora, uma das coisas que mais aprendi, nesses doze anos convivendo com essa dificuldade de saúde foi compaixão: nunca se sabe que sofrimentos uma pessoa está passando. Nós, por exemplo, de tanto que se repetem os altos e baixos, nos tornamos especialistas em não mostrar o que se passa dentro de nós (estamos sorrindo quando, na verdade, estamos arrebentados por dentro - isso coloco como afirmação porque li em artigos de quem fez estudos com muita gente que enfrenta problemas de depressão crônica como TAB; um médico me indicou o site http://www.psiqweb.med.br/ que tem vários artigos interessantes).

deixar pra depois - procrastinação

Procrastinação é o mesmo que deixar pra depois, mas continuamente em relação a alguma coisa.
É uma dificuldade que tenho com relação a muitas coisas que tenho que fazer.
De novo, "trocando figurinhas" com minha amiga que tem dificuldade semelhante, parece que isso também é comum a quem tem TAB (Transtorno Afetivo Bipolar).
Difícil começar; os trabalhos de faculdade, por exemplo. Mais difícil ainda terminar, para quem é perfeccionista: nunca está bom.
Engraçado que na psicoterapia fui desencavar que eu me sentia como quem quer pular do sexto andar onde eu morava, já aos 12 anos, porque não conseguia terminar um trabalho de aula que tinha que entregar no outro dia. E olha que eu não tive maiores problema com notas no colégio, muito pelo contrário.
Queria poder citar uma situação em que uma professora me deu uma colher de chá sem a qual não sei se eu teria passado na disciplina dela naquele ano - mas quem vai ficar mal, nesse caso, é ela que me ajudou, então não vou entrar em detalhes. Mas, em suma, ela disse que como eu era um bom aluno, ela ia dar uma chance com um trabalho que ela deu o ano inteiro para fazermos.

conquistas - coisas positivas

Várias coisas consegui fazer, mesmo depois da primeira crise há 12 anos.
  • Passei num concurso para o Banco do Brasil onde trabalhei em torno de dois anos.
  • Terminei minha faculdade que interrompi alguns meses depois da primeira crise.
  • Passei em um concurso para a área administrativa da Polícia Federal, onde trabalho há uns quatro anos e meio.
Isso, pra citar as principais conquistas. Pois quem tem essa dificuldade sabe que não é fácil nada do que eu citei acima. Nem tanto passar nos concursos quanto conseguir continuar trabalhando a jornada diária, o que às vezes parece impossível. A imagem para uma analogia é de alguém que tem que empurrar um caminhão.
Nem uma das coisas que citei foram fáceis, nem foram feitas sem enfrentar várias dificuldades ligadas a bipolaridade, como faltas, e dificuldade para controlar a ansiedade para poder fazer os trabalhos da faculdade.
Eu trabalhei em hotéis. Em outros empregos, mal consegui começar e acabei parando.
Comecei uma pós, mas não concluí. Por vários motivos, um deles vou citar no próximo post, outro é a questão de que havia passado no último concurso que cito e não consegui fazer o trabalho de conclusão enquanto estava começando no novo trabalho - participei de todas as aulas e passei em todas as disciplinas no primeiro ano, o que não andou foram os últimos seis meses que eram para o trabalho de conclusão (a pós tinha um ano e meio de duração).
Comecei outras faculdades que não consegui levar adiante por vários motivos, praticamente todos ligados aos problemas com a bipolaridade. Pois a faculdade de Filosofia eu havia iniciado porque queria ser sacerdote católico. E os padres do grupo em que eu estava me disseram que não era bom para mim continuar. Mesmo que os profissionais que eles me apontaram para que pudessem ter um retorno, em Curitiba onde eu morava, tivessem dito que mesmo com alguma dificuldade não havia nada que impedisse de continuar naquela caminhada.
Hoje, vejo que os outros rapazes com quem eu convivia não conseguiam aceitar que eu tivesse "regalias", como não ser cobrada de forma tão veemente quanto eles se me atrasasse para a oração da manhã, às 6h15, antes do café, e da aula na faculdade que começava as 7h30 - morávamos a três quadras da universidade (PUC-PR). E isso era difícil de lidar para os padres que cuidavam do grupo.
Só para concluir de forma mais positiva, depois de sair do seminário tive várias namoradas. A maioria, se não todas, meninas muito legais e generosas - digo generosas porque enfrentaram muitas barras comigo, a bipolaridade é algo que vai e vem.

o ambiente afeta

Eu estava conversando por msn com uma amiga que tem a mesma dificuldade outro dia. Interessante algo que concordamos ser comum: funcionamos como "esponja". Explico: se as pessoas que estiverem ao redor estão de mal humor, preocupadas, nervosas, ... parece que a gente absorve isso, mesmo que as pessoas não abram a boca.
Não sei se isso acontece com todo mundo.
Mas vou contar uma situação interessante que ocorria comigo.
Eu lembro que antes da minha mãe se aposentar ela conseguiu voltar pras 40 horas no colégio (para se aposentar dessa forma, regras de aposentadoria da época - era já trabalhara 40 horas em outra época), mas ela trabalhava também na imobiliária, que ela e o meu pai haviam criado.
De forma que ela chegava muito cansada, irritada com toda aquela pressão de alunos e clientes.
O que eu lembro é que eu quando eu estava de bom humor, na sala, e minha mãe entrava pela porta da cozinha (a sala era ao lado da cozinha), mesmo não sabendo quem era, nem tendo visto ela ainda, meu humor mudava completamente - parece que eu absorvia no ar aquela irritação.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Noite X Dia

Eu disse (escrevi - rs) que voltava neste tema, vamos lá!
A primeira vez que li me chamou à atenção: fecha com a minha experiência.
Aí meu médico (que me acompanhava na época) repetiu.
Com quem tem depressão (e bipolaridade, nesse caso, não é diferente), ou está passando por isso (graças a Deus para muitos é um episódio único) se gasta toda a energia. E aí se leia "substâncias produzidas pelo cérebro". Explico: normalmente, a pessoa gasta energia, mas o organismo, na hora de dormir, guarda uma quantidade significativa para o que se poderia chamar (comparando com um motor) de "arranque" pela manhã - aquele "sair da cama" que exige uma energia danada. Quem está com depressão fica elétrico à noite e o organismo queima tudo, não guarda essa quantidade necessária para "pular de manhã". Assim, se torna difícil levantar.
Em geral, pra quem está com problemas deste tipo (depressão): levanta com um motor resfolegando (fazendo aquele "cof, cof") para tentar iniciar a funcionar de manhã, vai melhorando de tarde, e está com toda energia de noite - pelo menos foi que me explicaram e que li em vários artigos (quando der coloco alguma bibliografia aqui, mas posso citar como um dos melhores livros que li: Uma mente inquieta - de, ops! o nome é Kay Redfield Jamison, o testemunho da autora de sua convivência com a bipolaridade, uma vez que ainda não se conhece cura; e vários estudos apontam que atinge algo em torno de 1% da população).

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Folga (??!!!) - Que bom ... (??!!!)

Se você tem um trabalho e pode apresentar um atestado; ou tem que parar com o que está fazendo, ou não consegue fazer as coisas do dia-a-dia: bah! (como diz o gaúcho - rs), que bom! de folga!


Vou ficar no fato do atestado (que está mais perto de mim, no momento - sou servidor público): a sensação de ter que ficar parado e não trabalhar é horrível. Mas para quem está de fora parece ótimo.


Éh, não são coisas que se possa explicar para quem não passa por isso. (E ainda não quer ajudar com outras coisas ... - não QUER fazer nada. Como se explica que a doença é justamente falta de "vontade", de energia, para fazer as coisas? - seja o que se quer, seja o que não se quer mas é, ou seria, necessário fazer, tudo fica difícil - às vezes até a higiene pessoal como escovar os dentes ou fazer a barba - arg!) Conheço muita gente que achava um absurdo; até que teve um crise depressiva ...


Igualmente, ficar com vontade de ficar acordado noite a dentro, com energia de madrugada - e sem energia pela manhã, ao acordar (neste tema, eu volto).

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Aceitar …

Uma coisa difícil para quem passa por um problema de depressão, e quanto a bipolaridade é pior ainda, é aceitar que se tem uma dificuldade.  É pior com a bipolaridade porque nos momentos de euforia se está com toda energia: inclusive sem noção de limites, e ninguém quer aceitar que uma sensação de bem-estar possa ser um problema.
Posso comparar com outra que eu tenho: tenho que usar óculos, e fazer de conta que não preciso não vai me ajudar a enxergar melhor.
Certa vez eu ouvia, e acho que vem do AA (Alcoólicos Anônimos), que o primeiro passo para a cura é aceitar o problema.  O que não quer dizer passar o tempo todo em cima disso.  Mas sempre vai ter gente para julgar que é falta de vontade: “Faz um esforço, você consegue …”  Em relação a depressão, essa visão social é terrível, como bem falava a minha psicóloga: como se não fosse uma doença que te paralisa, que te incapacita, e sim simples e pura falta de vontade.
Esse tipo de preconceito porque não é uma perna cortada, que se pode ver, faz um mal danado.  Mais ainda se vier dos familiares.  E o pior, se você mesmo não aceita e não reconhece que tem um problema.
Muitos jogam, por conta, os remédios longe: e fazem da vida daqueles com quem eles convivem um inferno (não se faz mal apenas para si, mas para aqueles com quem convivemos, a quem amamos).
Como posso tomar vários remédios e ainda não aceitar?  Essa é uma questão interessante.   Gastar uma grana preta (médico, psicólogo, remédio, …) e ainda negar que existe uma doença de verdade (depois de 12 anos?!!).  Mas a gente cai nessa e se machuca: gera culpa, o que é horrível, porque suga a força que se poderia utilizar para caminhar em frente se aceitássemos o problema.
E, engraçado, que deixando, por um pouco, a minha história de lado, que já vi isso acontecer em situações diversas: pais que perderam um filho negando que estão depressivos e precisando de ajuda profissional, por exemplo.
Ah! Para quem não sabe, cientistas já conseguiram visualizar o cérebro humano em estado depressivo: e realmente fica diferente.  É uma doença catalogada, como a bipolaridade (TAB – Transtorno Afetivo Bipolar) e outras.
 
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